
Ele era um rapaz, como tantos os outros, mas diferente, como poucos existem. A sua diferença não estava à distância do olhar dos seus amigos, familiares ou mesmo do homem do talho onde ele comprava as deliciosas carnes para a sua mãe confecionar aos domingos.
A sua diferença residia no modo como via e sentia o mundo em seu redor, o mundo era obscuro, frio, sem ninguém, ou melhor com muita gente mas de linguagem e costumes diferentes como uma Babilónia.
Na escola sofria e não aprendia… era como se a matéria lhe fugisse… seria a culpa dos colegas, do professor… não… a culpa residia em lugar nenhum, e com esta culpa pesada e abstrata ele seguia dia-a-dia, por entre corredores vazios de esperança, cheios de crueldade inerente à nossa jovem humanidade, direto ao abismo.
Anos mais tarde e com a culpa já cravada no espírito, vieram as drogas, as más notícias e a chegada ao tal abismo…
“-É bom e vai-te fazer sentir melhor…” dizia um falso amigo com negras intenções.
“-É uma doença para toda a vida, sem cura…” diziam os doutores.
E prosseguindo este Karma Narco-Doente, o rapaz procurava esperança no fundo de uma garrafa, no fim de uma embalagem de comprimidos e em tantas outras fontes de prazer efémeras… A sua mãe sofria…Vendeu tudo, endividou-se, quebrou a lei tudo por doença, vício e solidão, a rua foi o seu fim.
Em Lisboa ele morou, para a margem sul ele se mudou, e no Centro Social da Trafaria ele depositou as suas últimas réstias de força… apesar de todo o seu passado ele parou de pensar só nele e nos seus problemas, conheceu a sua amiga Esmeralda, o tio Paredes… sempre com a orientação da doutora Sofia, ajuda da doutora Helena e a paciência da menina Carla….
Esse rapaz sou eu e chamo-me Bruno, já não sou infeliz… sou uma Pessoa que ansiosamente aguarda o seu posto de trabalho e, que está imensamente grato a toda a equipa deste centro que me acolheu quando eu mais precisava…
Autor(es): Bruno Miguel Pereira Tavares
Função: Utente de Centro de dia
R.Social: Centro social da Trafaria